Faz frio e chove lá fora. Isso me fez lembrar de uma coisa, agora aguentem (ou não, tanto faz para mim). Esses dias me perguntaram algo que eu odeio. “ Por que você fotografa isso? ”. Já explicarei porque odeio essa pergunta, antes tenho que desenrolar um pouco o enredo.
Vivemos em um tempo em que a fotografia é algo presente na nossa vida de formas que ela não era antes. Em geral as pessoas não anotam mais as coisas, elas fazem uma foto com o celular, por exemplo. Se a foto digital já era o auge da efemeridade, palavra adorada pelos teóricos do meio visual, o que me dizem do tal do Snapchat? Uma foto digital que nasce para parar de existir em 10 segundos. Quase que uma busca pela efemeridade absoluta. Tem também o Instagram, o Facebook, o Tumblr, o Whatsapp... Enfim, para os colegas que não perceberam as coisas andaram mudando e a imagem virou um ser híbrido e que cada vez mais está nas mãos de todos de formas acessíveis, com usos variados e por razões diversas. Outros tantos dizem que vivemos a tal da história de alfabetização visual. Que para mim é mais uma vez alguém querendo achar que sabe mais que o público sobre imagem. Total besteira e desconhecimento de alguém que ainda tenta separar quem é e quem não é o espectador, mostrando falta de informação sobre como funcionam as coisas nos meios digitais. Mas enfim, voltando ao assunto do início. O fato é que esse maior contato de todos com fotografia gera perguntas, que em geral são feitas para pessoas da área. No caso eu, que sou fotógrafo. Outro fato é que nem sempre essas perguntas são simples.
Há um motivo de eu odiar quando me perguntam coisas como: “Por que você fotografou isso? “ Por que você não fotografa aquilo? ” “Por que você fotografa? ”. O legal é que a razão é bem simples. Eu não sei. E veja isso não me faz menos fotógrafo ou menos profissional. Se tem algo que andei aprendendo nessa minha busca por um trabalho próprio em fotografia é que nem tudo tem que ter uma razão óbvia e explícita quando falamos de imagem. Falo isso por eu conviver com tantos fotojornalistas que podem discordar de mim nesse ponto. Já escrevi algumas vezes em textos meus que vejo a fotografia como uma forma de vida. Sobre como fotografar é errar, andar por aí na busca do desconhecido que está escondido nas coisas comuns do cotidiano e desencobrir isso aos olhos saturados das outras pessoas. O motivo de eu não gostar dessa indagação é o mesmo motivo de eu não gostar quando me respondem com outra pergunta. Isso porque uma imagem é uma questão. “Não se fotografa uma resposta, mas sim uma pergunta. Uma fotografia é um enigma”. Ouvi essa frase e anotei ela. Acho que ela resume bem essa questão. Eu tenho tantas respostas para a razão de eu fotografar quanto eu tenho para o porquê de existirmos nesse planeta azul minúsculo perdido no nosso universo observável de coisas desconhecidas. Fotografar é minha forma de perguntar, então toda vez que me perguntarem algo como as questões que citei não estranhem se eu ficar em silêncio. Eu estou apenas esperando a resposta de vocês. Se o tempo se paga com a vida, meus créditos são perguntas em forma de imagem. E sem cpf na nota por favor!